segunda-feira, 24 de março de 2014

O DIA EM QUE SAM MORREU - Festival de Curitiba

O ator Marcos Martins é o personagem Samir.



Cia. Armazém estreia O Dia em Que Sam Morreu


Em tempos de banalização do mal, o que afinal importa para nós? É em torno de questão tão delicada que gira O Dia em que Sam Morreu, espetáculo que a Armazém Cia de Teatro estreia no Festival de Curitiba 2014. A nova montagem do grupo paranaense, radicado no Rio de Janeiro, dramatiza as escolhas éticas que definem o destino de seis pessoas que se cruzam nos corredores de um hospital. Num ambiente onde a higienização dos corpos parece ser regra geral, talvez uma investigação mais aprofundada mostre que (como já nos alertaram as bruxas de Shakespeare) o Belo é Podre, e o Podre sabe ser Belo.

A estrutura do trabalho é calcada em uma sucessão de reinícios, alternando as vozes dos personagens que conduzem a trama. Qual a percepção deles todos sobre o mundo e o tempo em que vivem, sobre as pessoas que conhecem, o trabalho que fazem, as dúvidas que carregam? “Nossa dramaturgia se caracteriza pela investigação do tempo dramático. Gostamos de contar histórias em que o conteúdo esteja dialeticamente ligado à forma. Essa estrutura de “eterno retorno” cumpre a função de renovar sensações sobre os atos dos personagens. A cada retorno reatualizamos os acontecimentos e aprofundamos algumas das questões”, pondera o diretor Paulo de Moraes.

Como cenário para questões tão cruciais está um hospital. O cirurgião-chefe acredita ter poder sobre a vida dos outros e não mede esforços para chegar aonde quer, até o dia em que um jovem armado invade o hospital e a potência marginal e transgressora desse ato provoca um debate ético onde duas visões de mundo colidem.

Moraes, que divide a criação do texto com Maurício Arruda Mendonça, explica que desde que voltou do Festival de Edimburgo, ano passado, depois de receber por “A Marca da água” um dos prêmios mais importantes, a companhia estava interessada em trabalhar a questão do poder. “O que ele significa, quem o detém, como ele é capaz de interferir na vida das pessoas. Era um tipo de reflexão que levava a gente - claro - à observação do momento do Brasil, mas também abria a possibilidade de outras descobertas”, pondera.

Neste panorama, entram em cena questões de ética na política, na sociedade, nas relações, no amor. “Tem um pouco disso tudo”, diz o diretor, cuja companhia costuma criar espetáculos que buscam ampliar pontos de vista. “Queremos compartilhar preocupações sobre uma sociedade que achava que era paz, amor e solidariedade e, cada vez mais se mostra mesquinha, racista, homofóbica e elitista”, pontua Moraes.

Ele também dirige outro espetáculo em cartaz na Mostra 2014, “JIM”, que tem Eriberto leão como protagonista da trama inspirada na oba do poeta e compositor Jim Morrison, vocalista da banda The Doors e um ícone do rock mundial.  Para Moraes, os personagens das duas peças encontram semelhanças. “Acho que os personagens tentam um jeito de se colocar poeticamente e politicamente no tempo em que vivem”, observa.

Companhia sempre presente no Festival de Curitiba, a Armazém faz pela primeira vez uma estreia na Mostra. “É um risco muito grande expor um trabalho de cara pro Brasil todo, já que tá todo mundo de olho em Curitiba. Mas é um desafio gostoso também. Resolvemos correr o risco”.

Depois daqui, “O Dia em que Sam Morreu” segue para o Rio de Janeiro em temporada na Fundição Progresso e segue para osFestivais de Avignon (França) e Edimburgo (Escócia).

Ficha técnica:

Direção: Paulo de Moraes
Autoria: Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes
Elenco:
Jopa Moraes
Lisa E. Fávero
Marcos Martins
Otto Jr.
Patrícia Selonk
Ricardo Martins
Iluminação: Maneco Quinderé
Cenografia: Paulo de Moraes e Carla Berri
Figurinos: Rita Murtinho
Direção Musical: Ricco Viana
Videografismo: Rico e Renato Vilarouca
Assistente de Direção: José Luiz Jr.
Produção Executiva: Flávia Menezes
Produção: Armazém Companhia de Teatro
Patrocínio: PETROBRAS

O DIA EM QUE SAM MORREU
Armazém Cia de Teatro (Rio de Janeiro/RJ).
Dias 3 e 4 de abril. Guairinha.

Fonte: http://festivaldecuritiba.com.br/noticias/ver/183