terça-feira, 21 de dezembro de 2010

GÉRBERA ROSA


Teu olho flagra
a pele pétala
perfuma-se à perfeição
co'a lua na porta dos fundos
o sonâmbulo do bairro
roubou teu coração



domingo, 12 de dezembro de 2010

DONA VILMA, MÃE MUKUMBY



Festa de Zumbi dos Palmares - Londrina 2010

VILMA DE TODOS OS SANTOS

Dona Vilma, a Yálorixá Mukumby, tem 40 anos de sacerdócio no candomblé. Sua presença representa um divisor de águas na trajetória do movimento negro de Londrina. Como verdadeira filha de Ogum, o orixá que abre os caminhos, Mãe Mukumby vem cumprindo sua missão incentivando as manifestações da cultura popular, ministrando oficinas de culinária típica, de samba-de-roda, criando grupo de afoxé ou colaborando na implantação do sistema de cotas para os afro-descendentes na Universidade Estadual de Londrina.

Vocação espiritual

Vilma Santos de Oliveira nasceu em Jacarezinho em 1950. Como muitos negros, seus pais vieram do interior de São Paulo e Minas Gerais para trabalhar na lavoura da cana-de-açúcar. Mas antes de completar um ano de idade, D. Vilma já estava morando em Londrina, na Vila Nova, com sua mãe, Dona Allial, que recentemente havia ficado viúva.
Sua vocação para as coisas espirituais começou de repente: “Quando menina, eu fiquei doente, e minha mãe me levou para consultar com o Chico Xavier. Ele disse que eu precisava fazer um tratamento médico lá. Depois o Chico psicografou uma mensagem dizendo que eu deveria freqüentar um terreiro.”, relembra D. Vilma. Apesar de católica, a pequena Vilma começou a freqüentar o “Centro Espírita Mãe Silvana”, na Rua Uruguai. Mas só quando foi a estudar em Jacarezinho, em 1968, é que Vilma conheceu um terreiro de Candomblé. Naquele ano mesmo ela começaria sua iniciação, “tomando obrigação” com o pai de santo de São Paulo, Parra de Oxossi.
Aos 23 anos, Vilma queria continuar sua iniciação, mas não podia porque estava grávida. Nessa época, também, voltou a ficar doente. Sentia uma forte dor de cabeça: “Eu achava que era um problema espiritual, e queria falar com meu pai de santo, mas havia perdido o contato com ele.” Nessa época uma amiga havia trazido o pai de santo Odair de Iansã, de São Paulo, para “tomar obrigação” com ele. E foi por intermédio de Odair que Vilma soube que Parra de Oxossi havia falecido. Então Vilma combinou de “tomar obrigação” dali a um ano, e completar todas as obrigações com o Odair de Iansã, que é seu pai de santo até hoje. E explica o processo de iniciação: “A partir do momento que você se inicia você que tomar obrigação até 21 anos. Desde que eu tomei a obrigação de 7 anos que eu trabalho com o candomblé, que é quando se declara que eu sou uma zeladora.”, esclarece a Yá Mukumby.

Líder ativista

Há quarenta anos qualquer negro que praticasse sua religião era chamado de “macumbeiro” e alvo de agressões por parte dos brancos. D. Vilma não foi exceção: “Eu enfrentei muito preconceito. Eu tinha um terreirinho aqui no fundo de casa. A cada trabalho que eu fazia, o povo passava e xingava, a vizinhança tacava pedra, a polícia parava na porta, aí eu parei e fiquei atendendo as pessoas particularmente, por conta disso.”, revela.
Mas após 30 anos como ativista do movimento negro em Londrina, D. Vilma acha que alguma coisa melhorou por causa da atitude dos negros de marcar posição na sociedade: “Eu fui pra rua com o candomblé, produzi música, teatro, ajudei a montar grupo de percussão, de afoxé. Eu me sinto precursora disso, mas não faço isso propositalmente. O candomblé não é uma religião que fica batendo na porta para converter ninguém, mas é importante desmistificar as idéias erradas que as pessoas têm. Então quando você vê o governo do presidente Lula chamar os “zeladores”, os Pais-de-Santo para dialogar, você se sente bem porque o governo está começando a olhar para o candomblé com respeito e seriedade”, diz D. Vilma.
D. Vilma, a yálorixá Mukumby, é uma liderança fundamental em Londrina. Onde quer que haja discussão sobre temas que envolvam negros, lá está ela debatendo com sua serena autoridade: “Eu já fui a todas as universidades de Londrina fazer palestras, inclusive a católica. Os padres vêm pedir para falar aos alunos de teologia, e eu também já fui ao seminário adventista, para as escolas estaduais, participo de congressos, de tudo o que me chamarem.”, conta.
Mas Mãe Mukumby faz uma ressalva, lembrando que apesar de um maior interesse pela religião, ainda falta muito para inclusão da cultura afro-brasileira e da fé candomblecista: “Ainda estamos longe de uma aceitação sem preconceitos. Não existe nenhuma casa de candomblé num lugar do centro da cidade, por exemplo. O terreiro ainda está no fundo dos quintais. O horário do nosso culto começa às 22 horas ou 23 horas, não porque seja obrigatório, mas porque isso vem dos tempos da repressão em que os cultos tinham de ser feitos na hora em que o branco dorme.”, ensina.

Sem perfeição nem pecado

É a Yálorixá Mukumby Alaganguê, filha de Ogum, o orixá que abre os caminhos que ensina: o candomblé é uma religião de vários deuses que são os elementos da natureza. A terra é um orixá, o vento é orixá, o ferro também é um orixá. Ninguém pode viver sem os orixás, pois ninguém vive sem a água doce ou as plantas. Cada um desses orixás tem características humanas precisas. Uma pessoa regida pelo vento, Iansã, não tem um rumo certo. Uma hora está serena, e de repente, vira uma tempestade. A pessoa regida pela água doce, Oxum, é calma, serena, vaidosa, tem uma série de predicados bons, mas também traz um perigo sem igual.
Os orixás são assim, cheios de qualidades e defeitos humanos. Eles são próximos de nós, gente de carne e osso. Por isso, Mukumby diz que no candomblé não existe a idéia de perfeição. “Existe aquilo que se pode e o que não pode fazer. Quem escolhe é a própria pessoa. A gente entende que, sem ser fatalista, todo o indivíduo pode ser remodelado pelo culto. Então, se você é de Iansã, não tem parada, não tem sossego, a partir do momento em que você se conhece, você pode por limites a você. Então é preciso respeitar o santo da pessoa, respeitar quem a pessoa realmente é.” E a mãe de santo explica algo que surpreende muitos dos que conhecem pela primeira vez a sua religião. Na verdade, trata-se da grande diferença entre a religião africana e a cristã: “No Candomblé não existe pecado, existem leis. Se você conhece o que é bom e o que é ruim para o seu orixá, você sabe o que bom ou ruim por você.”, ensina com um sorriso Mãe Mukumby.


LANÇAMENTO DO LIVRO "INVEJA DOS ANJOS"


Para nossa alegria, o texto de Inveja dos Anjos ganha edição em livro que será lançado na próxima terça-feira, às 19 horas, na Livraria da Travessa do CCBB do Rio de Janeiro. Pintem lá, pessoal.

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A peça Inveja dos Anjos fala de três amigos que vivem à beira de uma linha de trem. Suas histórias são contadas em fragmentos de imagens, ações e acontecimentos, como se pudéssemos espiá-las através da janela de um trem em movimento. O texto se constrói a partir de nove fulgurações da vida dos três personagens, verdadeiras epifanias capazes de iluminar o íntimo e o destino de um dono de sebo, uma garçonete, uma confeiteira, um carteiro, uma velha louca, um mágico e uma menina de nove anos.
Como aponta a professora e crítica teatral Tania Brandão, em ensaio que acompanha o livro, as histórias de Inveja dos Anjos surgem diante de nossos olhos em cenas intercaladas, urdidas num fluxo sentimental. Porém, não é um texto realista. Trata-se de “uma celebração do teatro como jogo de emoção densa e o culto do que é intensamente humano”, avalia. Para a ensaísta, o tecido da trama de Inveja dos Anjos é a fina rede da memória, exibindo uma disposição lírica, de escavação do sujeito; e a um desenho épico, de retrospecção ou narração histórica.

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 Inveja dos Anjos recebeu o Prêmio Shell 2008 de Melhor Texto (Maurício Arruda Mendonça e Paulo de Moraes) e Melhor Atriz (Patrícia Selonk); e o Prêmio APTR 2008 de Melhor Espetáculo e Melhor Iluminação (Maneco Quinderé); o 3º Prêmio Contigo de Teatro de Melhor Cenografia (Paulo de Moraes e Carla Berri).