INVEJA DOS ANJOS EM RIBEIRÃO
Cenário do espetáculo "Antes" do Armazém (foto: Ferdinando Ramos)
ARMAZÉM ENCENA PARA 5 MIL PESSOAS
DIÁRIO DA REGIÃO
São José do Rio Preto 15 de junho de 2010
Vivian Lima
As primeiras sensações, criação e a potência primordial do ser humano, capaz de dar aos sonhos aspecto real. Todos esses elementos estarão reunidos no espetáculo “Antes”, que será apresentado durante a abertura do Festival Internacional de Teatro (FIT), hoje, às 20 horas.
A montagem é da Armazém Companhia de Teatro, do Rio de Janeiro. Foi feita especialmente para o festival. O diretor do grupo, Paulo de Moraes, recebeu convite da curadoria do FIT há dois meses e meio e aceitou o desafio de criar, pela primeira vez na história da companhia, um espetáculo em tão curto espaço de tempo para um local já determinado, justamente no momento em que estava envolvido com a direção de outro grupo na capital fluminense.
O texto é de Moraes e Maurício Arruda Mendonça, parceiro em quase todos os trabalhos consagrados do grupo. “A gente criou a história do espectro de um velho ator que habita as ruínas de um teatro abandonado. Sentindo-se solitário lá dentro, ele invoca uma grande tempestade e com ela algumas pessoas entram nesse teatro, que começa a ter vida de novo.”
O cenário montado no palco do anfiteatro “Nelson Castro”, na Represa, retrata bem um teatro abandonado: piano quebrado, refletores, figurinos espalhados, espelhos e areia. “É como se o teatro estivesse invadido pela destruição, pela areia, mas lá dentro ainda repousasse a ideia de uma pequena ilha.
Moraes explica que a peça fala sobre criação, representação, e que acaba revisitando várias fases da Armazém. Como influência para a montagem de “Antes”, Moraes cita o documentário “O Equilibrista”, de James Marsh, sobre um jovem que atravessou em uma corda bamba o espaço entre as Torres Gêmeas, em Nova York.
“Esse filme foi muito importante porque ele resgata essa ideia de potência primordial, aquele momento da vida em que tudo parece absolutamente possível. Todos os sonhos têm um aspecto muito real, em que a possibilidade parece muito maior que a impossibilidade. Isso faz parte do que a gente tenta discutir no espetáculo, essa potência inicial que a gente tem enquanto indivíduo.”
A atriz Simone Mazzer afirma que fazer “Antes” foi diferente de tudo que a companhia já havia realizado. “Estamos acostumados a processos que duram seis, nove meses. Foi um risco desde o começo, mas a gente é meio atrevido. Isso trouxe um outro tipo de frescor, nos chacoalhou.” Simone fala também sobre como a peça contribui para o conceito do festival, que este ano é a conquista da singularidade. “A singularidade aparece na questão da narrativa. Que teatro é esse que a gente faz? Como a gente habita esse lugar?” Moraes complementa: “Não damos a resposta. Estamos perguntando que teatro é esse?”
A VIDA REAL ME CARREGA NO AR COMO UM GIGANTESCO ABUTRE
Roberto Piva se foi ontem. Era um dos maiores poetas brasileiros. Lembro-me de ouvir Haroldo de Campos elogiando a poesia de Piva, suas metáforas brilhantes, sua métrica espraiada, e principalmente a liberdade de sua lírica homoerótica. Ouvir isso de um erudito como Haroldo (que devia ter levado um Nobel, com justiça) era uma surpresa pela abertura de visão da poesia brasileira, e pela confirmação de que Roberto Piva era um dos grandes. Sua poesia rebelde, surreal, dionisíaca, permanecerá pra sempre. Uma antologia séria dos principais poemas brasileiros de todos os tempos certamente figurará a obra-prima "A Vida Real Me Carrega no Ar..." de Robero Piva.
gostaria de ser
flor-de-maio
quando bate
tristeza danada